museu da tolerância da usp

museu da tolerância da usp

Projeto para o Museu da Tolerância da USP na Cidade Universitária, premiado no Concurso Público Nacional promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil SP.

  • sobre
  • ficha técnica
    • local: São Paulo - São Paulo - Brasil

      ano do projeto: 2005

    • Arquitetura: Cláudia Nucci, Valério Pietraroia e Sérgio Camargo

      Bruna Jorge Alves, Kelly Murayama, Luciano Soares E Rafael Henrique De Oliveira


  • prêmios
    • Concurso Público Nacional de Arquitetura para o Museu da Tolerância da USP | Menção Honrosa
      2005
      São Paulo - SP

O concurso para a sede do museu da tolerância descreve, em seu edital, sua criação com o objetivo de divulgar o trabalho desenvolvido pelo lei – laboratório de estudo sobre a intolerância da fflch-usp e de outros centros de pesquisa nacionais e internacionais, atuando como centro de conhecimento e divulgação do assunto. Portanto o chamado museu da tolerância, denominado de mut em nossa proposta, é antes de tudo um laboratório de pesquisa e ensino — vocação para a qual a universidade foi criada —, uma “escola” sem um corpo docente / discente definido, mas que possa, através de seu acervo e de conhecimentos trazidos por outras instituições, ser um centro de convergência do público interessado em conhecer, desenvolver e divulgar o conhecimento nesta área.

A tolerância, no brasil, é de certa forma um ato cultural. Diversas foram as manifestações culturais que ajudaram a integrar os grupos constitutivos da sociedade atual, da mesma forma que hoje são conhecidas inúmeras iniciativas de grupos culturais que atuam para minimizar as diferenças sociais existentes em determinadas comunidades, integrando-as e promovendo seu conhecimento.

A tolerância não pode ser confinada a estudos teóricos; deve, ao contrário, ser manifestada no espaço público. A rua é o espaço da tolerância. É nela que as diferenças tornam-se visíveis, onde se pode mostrar a diversidade de características que compõem uma sociedade e onde os conflitos devem ser resolvidos.

Implantação

A área escolhida para a implantação do mut (museu da tolerância), localizada no campus da universidade de são paulo, tem um significado estratégico e simbólico da maior importância. Estratégico pela própria importância que a usp representa no cenário nacional e internacional. Simbólico porque finaliza e arremata o conjunto de edifícios composto pela fau e pela faculdade de história e geografia, referências de nossa arquitetura recente. Neles vilanova artigas e eduardo corona assumem a proposta de liberar o térreo com a clara intenção de integrar horizontalmente as diversas instituições de ensino, nesse trecho, quase todas voltadas para as ciências humanas tendo a fau, em um extremo, fazendo a transição para as ciências exatas.

A cidade universitária não tem rua. A criação do campus e a mudança das diversas escolas que compõem a usp anteriormente localizadas no centro da cidade excluíram a relação direta entre a cidade e esas instituições. As grandes áreas livres e as grandes avenidas, hoje já com tráfego intenso, isolam as unidades.

O terreno escolhido mostra claramente essa contradição. Se um lado está localizado em um dos pontos de convergência do campus, no prolongamento do eixo fau/história, ele está, de certa forma, isolado pelas vias de circulação.

O limite com a área verde do instituto butantan e com a área verde lateral indica um caminho importante para que sejam criadas condições de conforto, de acolhida ao visitante e aos funcionários – situação rara na cidade e que deverá ser explorada.

A área não edificante lateral foi encarada como fundamental para a melhoria dessas condições. A consulta aos órgãos ambientais mostrou que sua utilização como via de acesso, com pavimentação drenante, poderá ser admitida mediante uma análise detalhada de impacto a ser feita durante o desenvolvimento do projeto. As árvores de porte que estão na área delimitada para a implantação do edifício deverão ser remanejadas e complementadas seguindo um projeto específico com a intenção de integrar e recuperar a continuidade com a área lateral e a área do butantan.

O suave declive existente no sentido leste / oeste deverá ser utilizado na implantação e na organização dos níveis e espaços internos.

Proposta

Com a intenção de transformar o mut em um centro de convergência aberto e dinâmico, onde os ambientes de estudo e divulgação integrem-se aos espaços de exposição, aos acervos e ao espaço público, nossa proposta parte da idéia de um edifício aberto ao espaço público, mas com a proteção necessária para a concentração aos temas aqui tratados.

Descartamos a proposta de pavimentos especializados onde determinadas atividades seriam neles concentradas. Dessa forma o acervo, os módulos temáticos e as exposições temporárias devem, na medida do possível, estar próximas e integradas às atividades de ensino, estudo e divulgação, “envolvendo” fisicamente essas áreas, evitando-se a estanqueidade entre os diversos níveis, procurando-se uma integração dinâmica, horizontal e vertical.

O edifício não deverá se sobressair do conteúdo exposto, criando as melhores condições para sua apresentação e manutenção, mas, pela sua importância e singularidade, ele deve revelar sua presença diferenciando-se da arquitetura de valor duvidosa praticada atualmente no campus.

O programa foi distribuído nos pavimentos com o objetivo de intensificar os fluxos verticais e horizontais, entre pesquisadores e estudantes, visitantes e funcionários.

Uma base que explora o desnível natural do terreno, revelando o movimento original existente, define o nível térreo, aberto, livre, uma proposta de rua interna, que liga os acessos e as áreas verdes. Nele, além das atividades de percepção e informação, propõe-se utilizá-lo como grande foyer de exposições temporárias, local para que sejam manifestadas as experiências de tolerância. A base receberá espaços de recepção de grande público, como o auditório e a biblioteca, além das áreas de apoio, serviços e administração.

Acima do térreo três pavimentos receberão os locais para aulas, laboratórios e cinemas “envolvidos” pelas salas temáticas e as exposições temporárias.

Projeto museográfico

O projeto do edifício propõe criar uma grande diversidade de tipologias de espaços e de modularidade para que o projeto museográfico a ser desenvolvido possa trabalhar com a multiplicidade de situações e com a flexibilidade necessária para o enriquecimento da visita e da convivência.

Foram pensados nos pavimentos espaços de exposição lineares, espaços com pés direitos duplos e triplos, espécies de “caixas de palco”, integrando visualmente os pavimentos, as salas de aula, os laboratórios, espaços baixos, mais “introspectivos”, com determinado isolamento. Todos eles são circundados por uma galeria de circulação, espaço de transição entre o exterior e o interior do pavimento, de onde o público poderá partir, criando o seu percurso aleatório ou temático, em função de seu interesse.

Infra-estrutura

A galeria criada em toda a periferia do mut deverá organizar os fluxos verticais e horizontais de público e de infra-estrutura, atendendo à totalidade das salas de maneira independente. Como o foco são as informações internas, as galerias serão externamente fechadas por painéis em concreto branco, com aberturas estrategicamente dispostas nas posições dos volumes internos. Nas extremidades um sistema de rampas entrelaçadas de um lado e terraços no lado oposto deverão se abrir para as áreas verdes, porém protegidos por um sistema de painéis cerâmicos quebra-sol permitindo a necessária proteção das fachadas leste e oeste.

A cobertura atende aos mesmos critérios de modularidade proposto para o edifício. Nela, o deslocamento dos planos inclinados e a defasagem das aberturas verticais permitem utilizar a iluminação natural de maneira modular, orientando-a em relação ao sul ou mesmo ao norte, dotando-a de proteção necessária e evitando-se a radiação direta da luz solar.

Pretende-se utilizar as áreas externas adjacentes como forma de integração com o sítio existente. A colina proposta ao longo da av. Lineu prestes, marcando o acesso inferior, além de se relacionar com o plano inclinado do térreo, será uma barreira sonora importante para a melhoria das condições no interior do mut.

A área verde lateral poderá ser utilizada para atividades ao ar livre e como via de acesso. A análise dos órgãos ambientais deverá considerar o impacto na área já canalizada do córrego, hoje gramada, onde o público tem livre acesso.